A era da curadoria: o que importa e saber o que importa - um livro e mais um estímulo à reflexão

Fonte da imagem: página da Editora Saraiva, na qual o livro está à venda

Em agosto deste ano de 2015, foi lançado o livro "A era da curadoria: o que importa é saber o que importa" dos autores Mario Sergio Cortella, e Gilberto Dimenstein. É uma obra curta no que se refere à extensão, porém muito proveitosa.

Por meio de um texto redigido em formato de diálogo estabelecido pelos autores, aborda-se os desafios da educação diante de uma sociedade em que cresce o acesso às tecnologias digitais de informação e comunicação (TDICs), ao mesmo tempo em que os processos de ensino-aprendizagem pouco se atualizam, avançam, progridem, melhoram... 

Ainda temos um contexto escolar (currículos, avaliações, sistemas, formação docente) que parece não ter entendido que a lógica é a escola se conectar com a realidade, e não o contrário, conforme se insiste em fazer.

Nesse sentido, Cortella e Dimenstein (2015) abordam dez tópicos sobre os quais faço alguns destaques:

1. Educar pela comunicação; comunicar pela educação - a educação como processo de empoderamento, fertilização, politização.
2. Curadoria do conhecimento - o que é um educador-comunicador-curador?
3. Cidadania, comunicação e educação: eixo indissociável - o atual cenário político é utilizado como exemplo para pensarmos sobre o significado de termos como, por exemplo, inovação, autoria, informação contextualizada, concentração, comunicação stricto sensu, cidadão comunicante, panelaço, ditadura, ágora.
4. Credibilidade e crítica - precisamos de mais usuários de mídias e TDICs, em vez de consumidores.
5. Aprender em tempo real e pelo resto da vida - o poder da comunicação (em seus diferentes formatos) como recurso educativo.
6. Nova era? E o que já era? De Gutemberg ao virtual de nossos dias - lembra-nos da mensagem do filme "O nome da rosa". Qual foi o verdadeiro pecado cometido por Adão e Eva?
7. Empoderamento: "É junto dos bão que ocê fica mió" - precisamos de uma ação coletiva e audaciosa para revisar nossos currículos escolares e promover o que, de fato, é uma "sala de aula" interativa onde todos os sujeitos possam somar (e somam até porque são de gerações diferentes). Já assistiu ao filme "Os estagiários"?
8. Simultaneidade, instantaneidade e conectividade - quero tranquilizar o Prof. Cortella, em relação ao tédio! Penso que posso me considerar da chamada geração Y, portanto, posso dizer que a internet também tem muito material ruim que, por isso, causa tédio a quem tem uma postura de usuário. Sendo assim, também somos estimulados a criar e até a sermos mais atentos aos "idiotas da objetividade" presentes no contexto acadêmico.
9. O que importa é saber o que importa - sair do armário, atribuir sentido, convergência, hipertextualidade, conquistar, escrever na areia.

O último tópico consiste em um glossário que traz breves apresentações das personalidades citadas ao longo da conversa, tais como Rubem Alves, Paulo Freire, Serginho Groisman, Drauzio Varella, Sócrates, Bertrand Russel, Karl Marx, Getúlio Vargas, Luís Inácio da Silva, Nelson Mandela, Clarice Lispector, Fernando Pessoa, e outros possíveis curadores.

De maneira geral é um diálogo entre um educador comunicador (Cortella) e um comunicador educador (Dimenstein); possui um sumário que parece menu de restaurante com os melhores pratos, inclusive da culinária do interior, advinda da sabedoria popular;  pertinente comparação entre educação com biópsia e jornalismo com autópsia; faz a importante ressalva de que "Nós, da educação, nos orgulhamos do fato de ela ser um ato político." (CORTELLA, 2015, p. 18); reconhece o ciberespaço como possibilidade e não como ameaça, quando aproveita a obra para promover a iniciativa do site Catraca Livre.

Já tive a oportunidade de ler e utilizar como material didático-pedagógico outras obras de ambos os autores, o que me proporcionou gostar do que eles discutem e como discutem. Confesso que, como pedagoga stricto sensu que busco ser, os ensinamentos de Cortella, têm me feito muito bem...